De uns anos pra cá cresceu o número de filmes, documentários e reportagens que colocam em pauta o tema ‘periferia’. Essa mudança é muito importante, pois dá protagonismo a personagens e histórias que antes ficavam esquecidas. Porém, há que se ter muito cuidado com algumas produções, que reforçam visões distorcidas e preconceituosas sobre a ‘periferia’.
Boa parte das produções audiovisuais sobre a periferia reproduzem dois tipos de visões, opostas, mas igualmente estereotipadas. O primeiro tipo de visão a que me refiro é aquela que traz uma representação dualista da periferia (o bem x o mal). Geralmente traz às telas o problema da criminalidade e do tráfico de drogas como marcas indiscutíveis da periferia. Normalmente retratam o sofrimento de “famílias de bem” sujeitas às mãos dos traficantes.
Outras produções que ainda atuam neste sentido mostram também a dificuldade da polícia em enfrentar os “bandidos” da favela. Sem tirar os méritos de cada produção, cito como exemplos: “Tropa de Elite”, “Cidade de Deus”, “Manda Bala” entre outras.
Outra visão, igualmente estigmatizada, que também se faz presente nas produções audiovisuais é aquela que trabalha com a construção de heróis. São crianças, jovens, adultos ou grupos que conseguem superar “os problemas da periferia” e se tornam verdadeiros heróis, exemplos para toda a comunidade. Essas produções reproduzem o tradicional clichê norte-americano, superar as adversidades e vencer, trazendo a idéia do vencer sozinho e que se um pode, todos podem, o que nem sempre é verdade.
Um exemplo brasileiro é o documentário “Favela Rising”. Este documentário retrata a vida do cantor Anderson Sá, do grupo AfroReggae, mostrando como ele conseguiu mudar seu destino (entenda-se: não se tornar um criminoso) e ajudar outros jovens.
Também boa parte das reportagens televisivas e impressas traz embutida alguma dessas visões: ou o caos ou a libertação. É claro que não quero aqui tirar o mérito de grandes produções, como o filme “Cidade de Deus”, mas muitas vezes o audiovisual insiste em reforçar apenas alguns aspectos, desconsiderando toda a diversidade dos grupos periféricos.
O que quero dizer, em outras palavras, é que não dá pra “jogar tudo no mesmo balde”. A periferia não é só “guerra e tráfico” e não é tão simples entrar em um grupo cultural e “vencer na vida”.
Um pouco do que vemos no cinema, na TV e na mídia é o que Joan Ferrés chama de processo sedutório. Isto é, levar o espectador a generalizar/globalizar/projetar um conjunto de valores sobre um universo do qual se conhece apenas uma parte. Ou seja, “mostrar a parte pelo todo”.
Diferentes perspectivas audiovisuais
É claro que nem todas as produções são assim. Especialmente alguns diretores e produtores têm insistido em revelar outros aspectos da periferia, valorizando a diversidade e as peculiaridades deste complexo universo. Um exemplo é o documentarista Eduardo Coutinho, que rompe com as visões simplificadas e traz às telas personagens complexos e ambíguos.
Boa parte das produções audiovisuais sobre a periferia reproduzem dois tipos de visões, opostas, mas igualmente estereotipadas. O primeiro tipo de visão a que me refiro é aquela que traz uma representação dualista da periferia (o bem x o mal). Geralmente traz às telas o problema da criminalidade e do tráfico de drogas como marcas indiscutíveis da periferia. Normalmente retratam o sofrimento de “famílias de bem” sujeitas às mãos dos traficantes.
Outras produções que ainda atuam neste sentido mostram também a dificuldade da polícia em enfrentar os “bandidos” da favela. Sem tirar os méritos de cada produção, cito como exemplos: “Tropa de Elite”, “Cidade de Deus”, “Manda Bala” entre outras.
Outra visão, igualmente estigmatizada, que também se faz presente nas produções audiovisuais é aquela que trabalha com a construção de heróis. São crianças, jovens, adultos ou grupos que conseguem superar “os problemas da periferia” e se tornam verdadeiros heróis, exemplos para toda a comunidade. Essas produções reproduzem o tradicional clichê norte-americano, superar as adversidades e vencer, trazendo a idéia do vencer sozinho e que se um pode, todos podem, o que nem sempre é verdade.
Um exemplo brasileiro é o documentário “Favela Rising”. Este documentário retrata a vida do cantor Anderson Sá, do grupo AfroReggae, mostrando como ele conseguiu mudar seu destino (entenda-se: não se tornar um criminoso) e ajudar outros jovens.
Também boa parte das reportagens televisivas e impressas traz embutida alguma dessas visões: ou o caos ou a libertação. É claro que não quero aqui tirar o mérito de grandes produções, como o filme “Cidade de Deus”, mas muitas vezes o audiovisual insiste em reforçar apenas alguns aspectos, desconsiderando toda a diversidade dos grupos periféricos.
O que quero dizer, em outras palavras, é que não dá pra “jogar tudo no mesmo balde”. A periferia não é só “guerra e tráfico” e não é tão simples entrar em um grupo cultural e “vencer na vida”.
Um pouco do que vemos no cinema, na TV e na mídia é o que Joan Ferrés chama de processo sedutório. Isto é, levar o espectador a generalizar/globalizar/projetar um conjunto de valores sobre um universo do qual se conhece apenas uma parte. Ou seja, “mostrar a parte pelo todo”.
Diferentes perspectivas audiovisuais
É claro que nem todas as produções são assim. Especialmente alguns diretores e produtores têm insistido em revelar outros aspectos da periferia, valorizando a diversidade e as peculiaridades deste complexo universo. Um exemplo é o documentarista Eduardo Coutinho, que rompe com as visões simplificadas e traz às telas personagens complexos e ambíguos.
Coutinho se recusa a utilizar o método particular/geral. Ao invés disso, procura apresentar as ambigüidades e as incoerências dos depoimentos. Seus personagens não são tipos sociais/caricaturas, mas seres humanos “com voz” e protagonistas de uma história única. Outra característica de suas produções é evitar o uso de clichês e romper com o olhar de piedade/ assistencialismo sobre as classes desfavorecidas. Deixo como dica dois documentários de Coutinho: “Boca de Lixo” e “Santa Marta, duas semanas no morro”.
Neste mesmo sentido, outro documentário interessante é “O Prisioneiro da Grade de Ferro”, lançado em 2003 e dirigido por Paulo Sacramento. A novidade aqui é que, ao invés de um olhar “de fora para dentro”, são os próprios personagens que constroem olhares sobre si mesmos. O vídeo foi produzido a partir de uma oficina de cinema feita com aproximadamente 20 detentos do Carandiru. A oficina durou sete meses e os temas escolhidos para o documentário foram sugeridos e filmados, na maior parte das vezes, pelos próprios detentos.
Está claro que o meio audiovisual é restrito (financeiramente e temporalmente) e sujeito a edição, mas nem por isso terá necessariamente de reproduzir uma visão simplista e caricatural dos universos representados. O segredo é valorizar a diversidade e dar o protagonismo aos reais protagonistas, sempre!
Neste mesmo sentido, outro documentário interessante é “O Prisioneiro da Grade de Ferro”, lançado em 2003 e dirigido por Paulo Sacramento. A novidade aqui é que, ao invés de um olhar “de fora para dentro”, são os próprios personagens que constroem olhares sobre si mesmos. O vídeo foi produzido a partir de uma oficina de cinema feita com aproximadamente 20 detentos do Carandiru. A oficina durou sete meses e os temas escolhidos para o documentário foram sugeridos e filmados, na maior parte das vezes, pelos próprios detentos.
Está claro que o meio audiovisual é restrito (financeiramente e temporalmente) e sujeito a edição, mas nem por isso terá necessariamente de reproduzir uma visão simplista e caricatural dos universos representados. O segredo é valorizar a diversidade e dar o protagonismo aos reais protagonistas, sempre!
Por Ana Paula M. S. Mendes
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