06 junho 2010

Juventude e política: diferentes formas de protagonismo

Bem provavelmente você já escutou alguém dizer que a juventude de hoje é alienada, não se mobiliza, não reivindica seus direitos e não participa da política. Este é um pensamento que está muito presente em nossa sociedade. Pessoas de diferentes idades acreditam e reproduzem esta idéia. Mas, como toda idéia pré-concebida, devemos nos questionar: é verdadeira a imagem de uma juventude apática e desmobilizada? O jovem é de fato invisível no cenário político atual?

A meu ver, a resposta para estas perguntas é não. Definitivamente não. Boa parte das pessoas que criticam a juventude contemporânea parte da noção de que reivindicar é apenas sair às ruas, com apitos e faixas, e protestar em frente a órgãos públicos, empresas ou instituições. Essa é uma imagem fortemente presente no imaginário social, principalmente pela influência dos anos 60 e 70. O ideal de uma juventude revolucionária dos anos 60 e 70 se constituiu, principalmente, pela força dos movimentos estudantis da época e pelas diferentes manifestações ao redor do mundo, como o maio de 68, o Festival de Woodstock e outras movimentações culturais e políticas.

Passeata dos Cem Mil, movimento estudantil realizado no Rio de Janeiro, em 1968. 
Foto: Evandro Teixeira










Porém, em nossa análise sobre a atual participação da juventude na política, é preciso levar em conta que, dos anos 60 pra cá, muita coisa mudou. Naturalmente foram surgindo novas formas de visibilidade, diferentes maneiras de reivindicar e lutar pelos direitos.

Principalmente a partir da década de 90 é possível identificar a entrada de novos atores políticos em cena, e o surgimento de inúmeras novas formas de mobilização. Este processo é amplamente influenciado pelo advento e expansão da internet e pelas novas formas de interação social, para além do tradicional face-a-face.

Diferentes grupos juvenis passam a tornar-se visíveis de várias formas: através da música e da vestimenta (a exemplo do movimento hip hop, punk, dark e gótico), através da afirmação de uma identidade (a exemplo do movimento negro), através da luta pela diversidade sexual (a exemplo do movimento LGBTT) e muitas outras formas.

Também vale destacar a existência de organizações que reúnem diferentes grupos em prol de interesses comuns, tal como a mobilização ecológica (a exemplo do Greenpeace) e os movimentos anti-globalização, que pipocam em todos os cantos do mundo.


Em protesto no Chile, jovens vegetarianas pintam seus corpos como se fossem bois. O protesto, promovido pela ONG AnimaNaturalis, fazia parte da mobilização pelo ‘Dia Sem Carne’. Esta foi uma forma inovadora e criativa da ONG expor seu ponto de vista e chamar a atenção popular para suas reivindicações. Foto: Portal G1 (globo.com)





O que se pretende destacar com estes exemplos é que para além da tradicional mobilização das ruas e da filiação a partidos, a juventude contemporânea encontrou novas e variadas formas de adentrar o cenário político, mostrando e defendendo interesses locais e globais através de formas diferenciadas de ação: a arte, a música, a dança, o teatro, a performance etc.

Neste contexto é importante falar do cyberativismo. São protestos, abaixo-assinados e manifestos que chegam a milhares de casas em diferentes continentes através da internet. São espaços onde as pessoas podem posicionar-se a respeito de assuntos específicos e mostrar ao mundo sua opinião, enfim, fazer-se escutar. É também neste cenário que surgem as organizações hackers, que rompendo a tênue linha entre a lei e o crime, invadem os sistemas de grandes corporações financeiras como uma forma de revolta, protesto.

É claro que a mobilização física não deixou de existir com o advento da internet, basta lembrar das inúmeras mobilizações populares que vemos diariamente pela televisão e pelos jornais. Mas para além deste tipo de ação, surgiram novos modos de lutar, modos que muitas vezes são invisíveis na mídia tradicional, mas muito fortes e presentes na mídia alternativa.

Por fim, é importante falar da atuação de grupos da periferia, que introduzem novas formas de visibilidade e de afirmação de uma identidade. São grupos que lutam por interesses específicos (tal como a melhoria de uma rua ou de um bairro) ou que lutam por ‘um lugar ao sol’, pelo direito de exercer e mostrar sua cultura, pela pluralização e democratização do espaço urbano.

E então, dá mesmo para dizer que a juventude de hoje é apática e desmobilizada?


Participantes da 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBT) realizam protesto em Brasília, como forma de alertar para a existência da violência, intolerância e a homofobia.
Foto: Elza Fiúza (Agência Brasil)




Em protesto contra a matança de tubarões, a artista francesa Alice Newstead, do grupo Sea Sheperd, perfurou a própria pele com ganchos e se pendurou em frente a uma loja de cosméticos em Paris. A performance da artista causou reação em diferentes países e foi amplamente noticiada pela mídia, conseguindo assim atenção para a causa do grupo.
Foto: Pierre Verdy (Agência France Press)



Ana Paula M. S. Mendes

Um comentário:

  1. gostei bastante das informações colocada nesse artigo esta de parabéns quem o fez :)

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Comentários

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