Comentário a partir do texto “Representação da identidade negra na telenovela brasileira. Uma construção negativa?”, de Danúbia de Andrade Fernandes e Maria Cristina Brandão de Faria.
Vemos em Hall (2000, p. 104), a dificuldade da sociedade contemporânea globalizada em delimitar as fronteiras da sua auto-identidade, processo pelo qual o sujeito entra num jogo de diferenças, em uma luta para sua auto-definição, na qual umas escolhas se sobressaem perante outras.
Vemos em Hall (2000, p. 104), a dificuldade da sociedade contemporânea globalizada em delimitar as fronteiras da sua auto-identidade, processo pelo qual o sujeito entra num jogo de diferenças, em uma luta para sua auto-definição, na qual umas escolhas se sobressaem perante outras.
Como Bauman (2005, p. 19) nos mostra, as “identidades” estão em todas as partes, “flutuando no ar”, algumas nós escolhemos e outras são lançadas pelas pessoas que estão em nossa volta, ou então, pela mídia. Logo, entramos – ou estamos propensos a entrar – numa rede de informações produzidas e difundidas pelos meios de comunicação em massa, que tentam estabelecer padrões que estejam de acordo com a visão hegemônica.
A mídia, na nossa sociedade pós-moderna, encontra-se como um forte canal de propagação de ideologias e identidades. E é através dessas identidades – que são comumente produzidas a partir da cultura de países desenvolvidos, como por exemplo, o padrão de beleza europeu – que estabelecemos, muitas vezes, a base do que somos. Entretanto, analisando a sociedade brasileira e a sua miscigenação étnica, percebemos que mais de 6% da população é negra e cerca de 40% são pardos . Ou seja, quase metade dos 184.388.620 brasileiros não segue os padrões europeus difundidos.
E agora? Onde esses negros serão alocados numa sociedade culturalmente construída de acordo com o modelo europeu? Qual o papel político e social que irão exercer? Como a televisão (o meio de comunicação em massa que se encaixa perfeitamente na rotina política e social do brasileiro) trabalhará com a idéia de que quase a metade da população, que não é branca, ocupa lugares secundários dentro da realidade que ela tenta construir e repassar?
Mesmo quando a televisão, em sua teledramaturgia, tenta trazer a questão do papel do negro na sociedade, dando a ele um personagem que deixa de ser secundário para ocupar o papel de protagonista, não consegue desprender-se por completo dos estereótipos produzidos e reproduzidos acerca do “ser negro”.
As autoras do artigo “Representação da identidade negra na telenovela brasileira. Uma construção negativa?”, dão como exemplo o papel de “Preta”, representada pela atriz Taís Araújo na novela “Da cor do pecado” e o pape de “Foguinho”, representado pelo ator Lázaro Ramos na novela “Cobras & Lagartos” .
‘Preta’, uma vendedora de ervas medicinais, se apaixona por ‘Paco’, um botânico, herdeiro de uma grande fortuna. Após várias investidas de personagens racistas, o casal acaba superando o preconceito e conquistando a audiência e o público brasileiro.
“Da cor do pecado” atingiu grandes picos de audiência durante a sua exibição e pode-se dizer que foi a teledramaturgia pioneira em trazer a discussão do racismo. Entretanto, como dito acima, não há um desprendimento total de estereótipos (re)produzidos, fato que podemos perceber logo no título: “Da cor do pecado”. Tanto o título da telenovela, como a canção da abertura e as cenas que a ilustram servem para reafirmar o caráter sensual da mulher negra, ligando-a ao pecado carnal.
Na novela “Cobras & Lagartos”, o personagem, ‘Foguinho’ (foto), que tinha apenas o estereótipo do malandro e deveria ser secundário conquistou o público e ocupou um dos papéis principais na trama. Ele roubou a herança de seu melhor amigo e deixou de ocupar o papel do negro sem esperança e ascende economicamente, revestindo-se de novos modos, os valores da elite.
O que podemos perceber disso tudo? O negro está ganhando o seu espaço dentro da televisão brasileira, mas ainda assim ocupa poucos papéis importantes, ficando sempre com as posições subalternas ou serviçais da sociedade.
O discurso racista vem de longa data e na sociedade brasileira já adotou certo ar de “naturalidade”, ficando difícil desenvolver um espírito crítico. Reproduzimos muitas vezes sem nos darmos conta, o racismo e o preconceito e, mesmo que sem intenção, acabamos por legitimar estereótipos difundidos tanto pela mídia televisiva como pela mídia impressa. A identidade negra está em sua maior parte associada a funções sem notoriedade, sem voz. E é isso que se deve mudar quando da “construção do real” por parte da televisão.
A nossa sociedade é muito excludente. Enquanto poucos são ouvidos, uma grande parcela da população não encontra espaço para se expressar, para mostrar o seu modo de ver o mundo e o seu jeito de se relacionar com ele. Faltam iniciativas que tenham como objetivo aproximar essas pessoas que se encontram à margem da sociedade com espaços nos quais elas possam mostrar as suas próprias visões de mundo.
E é para trabalhar com esse ponto também que o Projeto Periferia de Ponta a Ponta surgiu. Trabalharemos para que os jovens envolvidos no projeto esses encontrem seus papéis na sociedade e, assim como ‘Preta’ e ‘Foguinho’, deixem de exercer papéis secundários para serem protagonistas de uma história que possa ser ouvida por todos, em todos os lugares do globo, de ponta a ponta.
Texto disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2007/resumos/R0667-1.pdf
Sugestão de leitura:
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R1568-1.pdf
Por Italo Lopes
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