20 junho 2009

VISÕES SOBRE O UNIVERSO JUVENIL

Pesquisar o mundo juvenil é adentrar em um universo complexo e multifacetado, a começar pela indefinição sobre o que é ser jovem. No artigo “Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais”, os autores Helena Virgínia de Freitas e Oscar Dávila León refletem sobre as relações e indefinições existentes entre os termos adolescência e juventude. Para eles, o uso destes termos ora se superpõem, ora constituem campos distintos. A definição de juventude pode ser feita a partir de diferentes pontos de partida, seja como faixa etária, período da vida, contingente populacional, categoria social ou geração. Todas, porém, se referem a uma fase entre a infância e a maturidade.

De acordo com os autores, a concepção sociológica clássica marca o fim da juventude a partir de cinco dimensões: terminar os estudos, sair da casa dos pais e tornar-se responsável por uma moradia, casar e ter filhos. Porém essas condições devem ser relativizadas e não bastam para caracterizar este estágio da vida. Há de se levar em conta a coexistência de características tanto da fase adulta como da infância no período da juventude. Há uma tendência, a partir de critérios estabelecidos pelas Nações Unidas, de considerar a juventude como a faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos. Mas, como defende o artigo, isto pode variar muito, de acordo com cada jovem e em cada país. O preparo psicológico, as peculiaridades do mundo juvenil, as relações sociais e outras especificidades devem ser levadas em conta nesta definição. A questão etária é muito restrita quando se vai a fundo no significado do que é ser jovem.

Para além da indefinição etária, o mundo juvenil também se mostra complexo e multifacetado quando se busca compreender as características deste universo. Em seu artigo “O jovem como sujeito social”, Juarez Tarcisio Dayrell mostra que existe uma série de formas de interpretar este período da vida. Segundo o autor, uma das concepções mais arraigadas no imaginário social é a de que a juventude pode ser vista em sua condição de transitoriedade, na qual o jovem é entendido como alguém que ainda não chegou a ser, e suas ações no presente são apenas uma preparação para a maturidade. Para Dayrell, esta é uma visão extremamente simplista e marcada por negatividade. Outra óptica tradicional para se entender a juventude é a idéia de uma fase de liberdade, prazer e comportamentos exóticos, caracterizando-se como uma visão romântica desta etapa da vida. Esta concepção traz a idéia de hedonismo e irresponsabilidade. Neste contexto, também há outras tendências, como a que percebe o jovem reduzido ao campo da cultura ou como um momento de crise, dominada por conflitos internos e problemas familiares.

Fugindo das concepções clássicas e rígidas, Dayrell defende que a juventude deve ser vista a partir da diversidade. De modo algum a juventude se reduz a uma simples passagem para a vida adulta. Esta fase assume uma importância enquanto fase real. Tendo isto em vista, o autor defende que ao invés de ‘juventude’, devemos falar em ‘juventudes’. Uma época marcada por transformações concretas e peculiaridades.

É neste sentido que o autor defende o jovem como um sujeito social, marcado por uma historicidade, portador de desejos e movido por desejos, com determinada origem familiar, com relações sociais e que ocupa um lugar social específico. Visto assim, o jovem em contato com o pesquisador torna-se não apenas um objeto de observação, mas um agente de interação, capaz de refletir sobre sua própria existência e assumir-se como protagonista de uma história.

É respeitando a diversidade do universo juvenil e valorizando o jovem como um sujeito social concreto que o projeto “Periferia de Ponta a Ponta: juventude, cidadania e práticas culturais’ procura trabalhar.


Por Ana Paula Mendes

Um comentário:

  1. Maravilha, realmente precisamos de projetos que contemplem o jovem na sua plenitude, e não mais como o "não ser" tão debatido e divulgado por estudos por estudos sócio-econômicos e culturais.

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